Liderar equipes de tecnologia vai muito além do conhecimento técnico, metodologias ágeis ou habilidades de gerenciamento de projetos. O verdadeiro desafio está em compreender e atender às necessidades fundamentais das pessoas que compõem essas equipes.
É nesse contexto que o modelo SCARF, desenvolvido por David Rock, se apresenta como uma ferramenta poderosa para líderes de TI. Este framework explora cinco domínios que ativam respostas de ameaça ou recompensa no cérebro humano: Status (Status), Certainty (Certeza), Autonomy (Autonomia), Relatedness (Relacionamento) e Fairness (Justiça).
Ao entender e aplicar esse modelo, líderes de TI podem criar ambientes de trabalho que estimulam o engajamento, a colaboração e a inovação, reduzindo o estresse e aumentando a produtividade de suas equipes. Saiba mais!
O modelo SCARF em TI
Status (Status): Reconhecendo a expertise técnica
No ambiente de TI, o status frequentemente se associa ao nível de conhecimento técnico e à capacidade de resolver problemas complexos. Profissionais de tecnologia valorizam intensamente o reconhecimento de sua competência e contribuições.
Como aplicar:
- Implemente programas específicos de reconhecimento técnico que destaquem soluções inovadoras e contribuições significativas;
- Crie oportunidades regulares para que membros da equipe demonstrem seu conhecimento através de apresentações técnicas e momentos de compartilhamento;
- Estabeleça trajetórias claras e transparentes de carreira que reconheçam tanto o crescimento técnico quanto o desenvolvimento de habilidades de liderança;
- Além disso, incentive a participação em comunidades de prática e eventos do setor para aumentar a visibilidade externa e o reconhecimento profissional.
Certainty (Certeza): Navegando em um ambiente de constante mudança
A indústria de TI caracteriza-se por transformações rápidas. Inevitavelmente, essa volatilidade pode ativar respostas de estresse associadas à incerteza.
Como aplicar:
- Comunique claramente visões de longo prazo e roadmaps tecnológicos, mesmo em ambientes ágeis com prioridades em evolução;
- Portanto, estabeleça rituais consistentes como reuniões diárias, revisões de sprint e retrospectivas para criar previsibilidade no dia a dia;
- Forneça feedback regular e transparente sobre o desempenho individual e coletivo da equipe;
- Desenvolva planos proativos de gerenciamento de mudanças que incluam comunicação antecipada e treinamento adequado para novas tecnologias;
- Principalmente, mantenha documentação técnica atualizada e processos bem definidos para reduzir ambiguidades operacionais.
Autonomy (Autonomia): Balanceando liberdade e alinhamento estratégico
Profissionais de TI geralmente valorizam a liberdade para tomar decisões técnicas e abordar problemas de maneira criativa. Notadamente, limitações excessivas podem diminuir significativamente a motivação e o engajamento da equipe.
Como aplicar:
- Adote abordagens de liderança que estabeleçam “o quê” (objetivos claros) e “por quê” (contexto do negócio), mas permitam que a equipe determine “como” (soluções técnicas);
- Alternativamente, implemente práticas como “20% do tempo” para projetos de inovação ou melhoria de código;
- Promova ativamente a propriedade do produto dentro das equipes, incentivando os membros a assumirem responsabilidade por componentes específicos;
- Equilibre cuidadosamente a autonomia individual com padrões e convenções de equipe através de revisões de código colaborativas e arquitetura compartilhada;
- Finalmente, forneça recursos adequados e elimine obstáculos que impeçam a equipe de exercer sua autonomia efetivamente.
Relatedness (Relacionamento): Fortalecendo conexões
Em ambientes de TI cada vez mais distribuídos e remotos, construir relacionamentos significativos pode apresentar desafios consideráveis. No entanto, este aspecto continua sendo importante para a colaboração e a saúde geral da equipe.
Como aplicar:
- Crie espaços dedicados para interações não relacionadas a trabalho, como coffee breaks virtuais ou canais de discussão sobre interesses compartilhados;
- Similarmente, facilite programas de mentoria e pareamento de programação que promovam conhecimento e fortaleçam os laços da equipe;
- Organize periodicamente workshops de team building focados em resolver desafios técnicos de forma colaborativa;
- Implemente práticas de comunicação adaptadas que funcionem bem em ambientes híbridos ou remotos, como documentação assíncrona e colaboração em tempo real;
- Acima de tudo, promova uma cultura de apreciação onde os membros da equipe reconheçam regularmente as contribuições uns dos outros.
Fairness (Justiça): Avaliação e recompensa equitativas
A percepção de injustiça pode desencadear fortes respostas negativas no ambiente de trabalho. Nesse sentido, a justiça se estende desde a distribuição de projetos interessantes até a avaliação de desempenho e oportunidades de crescimento profissional.
Como aplicar:
- Desenvolva critérios claros, objetivos e transparentes para promoções e aumentos, equilibrando métricas técnicas e contribuições para a equipe;
- Distribua equitativamente tarefas desafiadoras e oportunidades de aprendizado entre todos os membros da equipe;
- Ademais, implemente processos de tomada de decisão inclusivos que considerem diversas perspectivas e experiências;
- Garanta que as políticas de trabalho remoto, flexibilidade de horários e benefícios sejam aplicadas consistentemente para todos;
- Por fim, aborde prontamente comportamentos prejudiciais como “knowledge hoarding” (retenção de conhecimento) ou crédito injusto por trabalho colaborativo.
Aplicações práticas do modelo SCARF em TI para desafios comuns
Gerenciamento de equipes multidisciplinares
Equipes de TI modernas frequentemente reúnem profissionais com habilidades diversas e complementares. Então, este modelo pode ajudar a criar um ambiente onde diferentes especialidades recebam valorização igualitária.
- Status: Reconheça e celebre ativamente a expertise em todas as disciplinas, não apenas em desenvolvimento;
- Certeza) Defina claramente como diferentes funções contribuem para o processo de entrega geral;
- Autonomia: Permita que especialistas de cada área tenham voz ativa nas decisões que afetam seu trabalho;
- Relacionamento: Facilite, portanto, a compreensão mútua através de documentação compartilhada e terminologia acessível;
- Justiça: Garanta, sobretudo, que os critérios de avaliação sejam apropriados para cada função especializada.
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Redução de burnout e rotatividade
Muitas vezes, o setor de tecnologia apresenta altos níveis de burnout e rotatividade. Entretanto, a aplicação consistente do modelo SCARF pode criar um ambiente de trabalho mais saudável.
- Status: Reconheça explicitamente esforços para melhorar processos, não apenas entregas de features;
- Certeza: Estabeleça expectativas realistas sobre carga de trabalho e disponibilidade em diferentes momentos do projeto;
- Autonomia: Permita flexibilidade significativa na gestão do tempo e local de trabalho;
- Relacionamento: Promova ativamente uma cultura onde os membros da equipe possam discutir abertamente desafios e estresse;
- Justiça: Distribua, de maneira justa, o trabalho de plantão e tarefas de manutenção entre todos os integrantes da equipe
Integração eficaz de novos membros
Incorporar novos talentos em equipes técnicas representa um desafio para muitas organizações. Porém, o modelo SCARF oferece um framework para criar experiências de onboarding positivas e eficientes.
- Status: Ofereça oportunidades estruturadas para que novos membros demonstrem suas habilidades através de projetos introdutórios significativos;
- Certeza: Forneça documentação clara e abrangente sobre processos, expectativas e recursos disponíveis;
- Autonomia: Equilibre cuidadosamente orientação estruturada com espaço para exploração independente e aplicação de conhecimentos prévios;
- Relacionamento: Atribua mentores dedicados e organize, desde o início, introduções deliberadas à equipe e à cultura organizacional;
- Justiça: Avalie, com sensibilidade, o desempenho inicial considerando a inevitável curva de aprendizado em um novo ambiente.
Comunicação técnica e não-técnica
Líderes de TI frequentemente enfrentam o desafio de facilitar a comunicação eficaz entre equipes técnicas e stakeholders não-técnicos. Essa ponte comunicativa constitui um aspecto fundamental para o sucesso de projetos tecnológicos.
- Status: Valorize explicitamente habilidades de comunicação e tradução técnica tanto quanto conhecimento técnico profundo;
- Certeza: Estabeleça protocolos claros e consistentes para documentação e relatórios em diferentes níveis de detalhamento;
- Autonomia: Permita que a equipe determine os detalhes técnicos enquanto mantém, simultaneamente, alinhamento com objetivos de negócios;
- Relacionamento: Crie, regularmente, oportunidades para interações diretas entre desenvolvedores e usuários finais ou stakeholders;
- Justiça: Compartilhe, de forma transparente, tanto feedback positivo quanto construtivo dos stakeholders com toda a equipe técnica
Em suma, o caminho para uma liderança eficaz em TI não está apenas no domínio da tecnologia mais recente, mas fundamentalmente na criação de um ambiente onde as pessoas se sintam genuinamente valorizadas, seguras, conectadas e respeitadas.
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